Depois da rotina de aula diurna, me planejei para a tarde ir para o lado de Palermo, bairro mais afastado para atividades de andarilho mas ainda no, digamos, “centro de interesse turístico” de Buenos Aires, parte da cidade onde se concentravam 90% das atividades de interesse dos turistas (vale lembrar que esse termo não é universal, acabei de inventar). Antes disso fui almoçar com o pessoal do curso. São vários os atrativos gastronômicos de Buenos Aires e escolher olhando um guia turístico por vezes apenas mais confunde do que esclarece. Eu já havia desistido e escolher um punhado de restaurantes para visitar e iria tentar na sorte. E foi ela que me levou ao Café Tortoni, Café mais tradicional da capital portenha. Por indicação de Eric e Mariah fomos até la e vejo que me arrependeria se soubesse como era e não tivesse ido. O lugar não só é um bom restauraute, ele respirava história e fora frequentado por grandes nomes da boemia portenha, dentre eles Carlos Gardel e Jorge Luis Borges. Além do mais um bom restaurante não era sinônimo de alto preço, mais pelo poder aquisitivo que a moeda brasileira me proporcionava do que pelo custo de vida argentino. Um bom almoço com bife de chorizo não saiu por mais de 50 pesos, o único preço que tivemos que pagar caro foi esperar na fila para entrar, mas nada que não valesse a pena. A decoração do ambiente remota dos tempos de sua inauguração que, a propósito, tem 150 anos de vida. Com caminhos opostos dos demais amigos, minha tarde turística seria solitária. Após a refeição segui de metrô para Palermo. Ainda não havia andando no metrô e descer escadas rolantes para acessar esse meio de transporte era pra mim apenas coisas de filme (Recife tem apenas metrô de superfície). Meio sujo porem eficiente, já estaria em Palermo poucos minutos depois pronto para visitar alguns lugares. O primeiro da lista era o Jardim botânico, bem no meio da cidade, abriga Mais de 8000 espécies vegetais de todo o mundo. Uma estufa subtropical foi criada para abrigar as variedades mais exóticas. Foi inaugurado em 1898 e é considerado a obra máxima do arquiteto e paisagista francês Carlos Thays. Casais de idosos levando seus netos para passear, namorados, amigos de passagem, gente sentada embaixo das árvores e um clima bem úmido cercavam o local. Local agradabilíssimo para uma caminhada, não só o jardim botânico, mas o bairro de Palermo era bastante arborizado e com diversos parques. Segui para o zoológico de Buenos Aires e as constantes ameaças de chuva ao logo dos dias se tornaram concretas. Choveu forte e isso me obrigou a aguardar um pouco para entrar no zoológico. 15 minutos de espera e 14 pesos depois eu já estava dentro do segundo zoológico mais visitado do mundo. Além da grande variedade de animais provenientes da Argentina e de outros países, o Zoo de Buenos Aires está muito bem cuidado e sempre tem atrações para as crianças. É subdividido de forma que cada grupo animal de uma determinada região do planeta tem seu espaço bem identificado. África, china.... é como dar a volta ao mundo em um safari. O mais curioso é que você pode alimentar alguns animais com uma ração que é vendida dentro do parque, óbvio que leopardos, tigres e outros pouco amistosos estão de fora dessa lista. Caminhada interessante, bom programa para crianças e turistas curiosos como eu. Já eram quase 05:00 da tarde e precisei agilizar para mais uma atração, o Jardim Japonês. Pelas fotos que vi parecia ser um lugar bastante agradável e bonito, pena que tive que ficar apenas com a visão das fotos, o parque fechara exatamente as 17:00 horas e não pude fazer a visita. Uma espiada por cima do muro foi a única coisa que consegui fazer. Uma pena, não teria mais tempo para ver o parque nos próximos dias. Segui de volta para o hostel, mas antes uma parada no mercadinho para comprar algumas coisas, vinho, água... Chegando lá, o pessoal de sempre estava no pub, tomando cerveja e conversando. A essa altura do campeonato o meu espanhol já estava melhor, e o inglês também devido ao convívio com Eric e Mariah e essas habilidades linguisticas me davam maior abrangencia social. Haviam grupos de mochileiros de lingua inglesa e grupos de mochileiros de lingua hispânica, e eu era amigo de todos. Nessa noite tinha muita gente reunida e a conversa rolava solta, regada a muito choop. Naquele dia Cristian tinha uma nova programação: O After Office do Museum. O Museum é uma boate muito legal, está situada num casarão projetado por nada mais nada menos que Gustave Eiffel, o mesmo que deu seu nome e sua arquitetura a famosa torre francesa. A casa que no passado era uma fábriba de ferramentas e moinhos era grande, tinha 3 andares e toda estrutura metálica refletia sua irmandade com o monumento da frança. Todas as quartas rolava uma festa chamada “after Office” que começava as 10:00 (em se tratando de Buenos Aires era super cedo, pois as festas geralmente começam as 2:00 da madruga). As pessoas chegavam do trabalho ainda de terno e gravatas e iam curtir a balada. Além de Cristian, também foram mais duas figuras que conhecera no hostel: O Cameron, um canadense super gente boa e Martin, se não me engano era noruegues, mas que minha memória não deixa esquecer e o jeito retartado que ele fazia. Gente boa, mas retardado. A única coisa que ele sabia dizer e alto e bom som era “boludo” e fazendo um gesto com a mão direita como se fosse um cozinheiro italiano degustando uma comida e dizendo “mamamia”. Seguimos os 4 para o Museum caminhando pela rua na maior tranquilidade, passamos no banco para sacar uma grana e seguimos rua abaixo. Essa era uma das grandes vantagens de San Telmo, tudo ficava muito próximo. Um grande portão de ferro e uma baita fila nos aguardava, muita gente arrumada, outros com roupas que ainda remetiam seu dia de trabalho. Logo na entrada ganhamos uma dose de energético com vodka e o som da casa, bem como todo o ambiente, era bastante agradável, musica pop/rock bastante dançante, muita gente dançando de forma altamente descontraida. Descobri uma bebida que ainda não havia tomado que pela qual me tornaria fã: a Tekila Sunrice, simplesmente tekila, groselia e suco de laranja, davam um efeito “nascer do sol” à bebida, não só no aspecto mas também no sabor, de ia gradativamente saindo do sabor laranja ao da groselia a medida em que era consumida. Curtimos até quase começarem a varrer a boate, haviam poucas pessoas ainda e rodamos um pouco os andares mais acima para ver o local. Depois de perambular, decidimos ir pra casa, bêbados e pedestres, ainda paramos em um armazem do lado do hostel para tomar a saideira. O lugar era bem característico e o dono, uma figura. Tinha uma voz bem rouca e era muito conversador. Tomamos algumas Quilmes, conversamos um pouco e voltamos para o hostel. Não lembro de como cheguei na cama, sei que foi com meus próprios pés, e nesse meio tempo aprendi mais uma nova palavra em espanhol: - jayme, estás muy boracho – Dizia Cristian. Agora eu sabia o que significava o nome de um bar mexicano que tinha em Recife.
Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos e simplesmente ir ver
Relato cronológico da viagem feita entre 01/03 à 16/03 de 2008 entre a Argentina e o Chile, começando por Buenos Aires (07 dias), depois Mendoza (03 dias) e Santiago (5 dias) - sendo um dia para Viña del Mar e Valparaiso -, com o objetivo de conhecer a gastronomia, lugares turísticos, históricos, culturais, costumes, esportes de aventura e aprender espanhol.