Registro da Viagem de 2008 entre a Argentina e Chile, relatada dia a dia toda a experiencia vivida
domingo, 1 de junho de 2008
Mochilão 2008 - Dia 04
Passeando pelo cemitério
Segui como viria se tornar de costume meu despertar. Sai cedo sem meu bom e velho café da manhã, em direção ao curso de espanhol. Meu consolo era que nos intervalos tinha bastante biscoito com café para os alunos, e era nessa hora que eu fazia a forra matinal do meu estômago. A aula viria a se tornar uma constante certa em meus dias e não vale a pena me extender sobre elas. Após a aula teve um bingo para os alunos onde foram sorteados passeios, entre outras coisas, infelizmente a sorte não sorriu para mim. Havia um anuncio na escola que informava sobre um show de tango no final do dia. Oportunidade única para ver uma apresentação de tango, a dança que mais representava o país onde eu estava. Bom, devida as limitações financeiras, deixei para pensar sobre essa possibilidade ao longo do dia. Saimos eu, Eric e Mariah da escola em direção à Recoleta, para finalmente poder ver o cemitério que no dia anterior estava fechado. O bairro tem esse nome por causa do convento dos padres Recoletos que fica ao lado da igreja. Recoletos porque os mesmo viviam recolhidos, se preservavam do mundo exterior para fazer umas orações. Mais interessante de tudo é o fato do cemitério ser ponto turístico, infestado de turistas, guias, cartões postais, lembranças, mapas.... mas não por menos, o cemitério era imponente, seus mausoleus eram atrações a parte, com enormes esculturas, criptas decoradas e bem cuidadas, além do fato de grandes vultos da história argentina estarem descansando aqui, entre eles o túmulo mais procurado: o jazigo da família Duarte, onde estão os restos mortais de Eva Perón. Na sequencia, seguimos para a Igreja do Pilar, onde ficava o antigo convento dos padres recoletos. Igreja de aspecto simples, porém tem um museu de arte sacra bem interessante. O museu acaba por retratar um pouco da história de Buenos Aires, sob a ótica dos padres. Logo na sequencia, Eric e Mariah teriam outras coisas a fazer e foram embora, porém combinamos de ir para o show de tango pela escola de espanhol. Despedi-me deles e continuei caminhando pelas proximidades do cemitério. Havia o centro cultural Recoleta, não aparentava nada de mais mas entrei mesmo assim. Havia uma amostra fotográfica chamada “ausências” de um fotógrafo chamado Gustavo Miguel Germano. Interessante amostra, eram fotografias originais de grupos de pessoas, amigos ou familiares cuja ditadura havia vitimado algum integrante da fotografia original. Era feita uma nova foto com as mesmas pessoas da original, obviamente as que estivessem vivas, no mesmo local e situação onde a foto original representaria a “Presença” e a foto nova, a “ausência”. Triste, refletiva, instigante, principalmente para alguem que havia recentemente perdido um parente. Sai de lá de certa forma comovido com as fotos e com as histórias. Segui meu rumo de volta ao Hostel, porém teria que passar na escola de espanhol para comprar as entradas do show de tango para mais tarde. Optei por fazer o percurso a pé, seria interessante para conhecer as redondezas e respirar um pouco mais dos bons ares que deram nome a capital. Os bosques das redondezas eram bastante interessantes, havia o monumento aos mortos da guerra das Malvinas, onde não arrisquei me aproximar pela cara de poucos amigos dos dois guardas que tomavam conta do local. Outra coisa que pude observar no caminho eram os estacionamentos. Quase não se viam carros parados nas ruas e depois me toquei que muitos estacionamentos eram subterrâneos. Os motoristas deixavam seus carros no subsolo e saiam por escadelas que mais pareciam acessos ao metrô. Ótima solução urbana. Voltando pela Rua Flórida encontrei um amigo que conhecera no dia anterior: um cão de rua preto, sempre perambulando pelo centro da cidade, fiz um pouco de carinho nele no caminho para a aula e vez por outra quando ele me via, seguia meus passos. Descobri o quanto a rua flórida era interessante à tarde, perto do final do expediente. Depois de ir à escola e pagar pela entrada do show de tango, segui rumo ao hostel e fui surpreendido por um show de tango ao ar livre. Um casal fazendo apresentação na rua de forma bem irreverente e profissional. Contribuição de dois pesos para os artistas de rua. De volta ao hostel, preparativos para o show de tango, banho, arrumar um pouco a mala, sentar no balcão do pub do Che Lagarto, tomar uma cerveja e ler algumas coisas. Agora era só pegar um taxi e seguir. O show de tango não era apenas um show de tango. Pela bagatela de 100 pesos, você tem uma aula de tango, depois um jantar e na sequencia o show propriamente dito. Fui um dos primeiros a chegar no Complejo Tango, seguido de Eric e Mariah. Muita gente chegou de uma só vez, a maioria pessoas de maior idade, mas alguns jovens também estavam lá. Fiz par com uma canadense que estava hospedada no Milhouse hostel, minha primeira opção de hospedagem na época do planejamento da viagem, super simpática e de sorriso largo. O convivio com Eric e Mariah me ajudou muito a tirar meu inglês do fundo do baú e a comunicação com a canadense fluia bem. A princípio os passos do tango são simples, e a aula era bastante divertida, com muitos esbarrões e pisadas nos pés. Depois da aula, fomos para a área onde seria o show e o jantar. Muito elegante e organizado, para o jantar existiam três refeições a serem escolhidas: entrada, prato principal e sobremesa, além de uma garrafa de vinho por mesa e uma garrafa d’água por pessoa. Refeição impecável, atendimento idem. Térmido do almoço, hora do show. Interessante quando as coisas que você faz superam suas espectativas, o show de tango não apenas eram pessoas dançando tango, mas toda uma encenação teatral, canto, sapateado. Muito humor, dança impecável, as encenações de cantores boêmios, serestas para as senhoritas, brigas de familia que não aprovam o relacionamento de um típico galanteador portenho, tudo era de se encher os olhos. Ao final de muitos aplausos, recebemos nossos certificados do curso de iniciação ao tango e fomos para nossos hostels. Fim do dia, hora de ir para a cama. Esse era meu pensamento. Fiquei um pouco no Pub conversando com José Luis e outras pessoas que estavam ali. O Cristian, um chileno que estava passando uns dias em Buenos Aires, e duas Colombianas estava se preparando para ir a uma boate e eu peguei carona na aventura deles. Finalmente algo que eu almejava: uma boate, conhecer a noite portenha e as pessoas que ali estavam. Se chamava Bahrein e fica bem no centro da cidade. A casa era antigamente um cofre de banco e agora era um point de musica eletrônica. Nas boates de Buenos Aires se paga a entrada na entrada, e por vezes já se ganha uma dose de cara, e todas as demais bebidas que são compradas são pagas no ato. No meu ponto de vista isso era um atraso, mas tudo bem. A boate se chamava Bahrein e tocava muita musica eletrônica. Havia um paredão luminoso que destacavam várias imagens, grande e imponente, era o destaque da boate. Música eletrônica da melhor qualidade, gente bem alternativa e um ótimo ambiente, além do mais o DJ era de fora e a casa estava lotada. Descobri da pior forma possível que meu cartão de crédito não queria pegar. Um susto pois dependeria dele para o resto da minha viagem. Porém, horas de reflexão depois, vi que aquele dia era do vencimento do cartão e o fuso horário de 1 hora a menos dava um descompasso entre a meia noite do Brasil e de Buenos Aires. Talvez por isso o sistema estivesse dando conflito e recusando o cartão. Tinha muita gente do hostel la, e de outros hostels, muitos estrangeiros que logo formavam um grupo. Inglês, espanhol... tinha que me virar e por sinal estava me dando bem. Muito vinho e bate estaca, assunto farto com um grupo tão globalizado de pessoas. Passadas as horas estava exausto, o dia foi puxado e eu tinha que ir embora, boa idéia mas péssima forma de executa-la. Assustado com o episódio do cartão de crédito, decidi ir a pé para o hostel para economizar o taxi. Distância considerada, além do mais as 3:00 da madrugada e sem saber o caminho ao certo. Passei direto da rua, voltei por outra, sai perguntando as poucas pessoas que por ai estavam, deixei a câmera cair no chão mas nada de mais aconteceu com ela. Buenos Aires é uma cidade menos violenta que Recife, mas naquele dia eu estava abusando. Cheguei exausto, fui logo pra cama e apaguei.
Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos e simplesmente ir ver
Relato cronológico da viagem feita entre 01/03 à 16/03 de 2008 entre a Argentina e o Chile, começando por Buenos Aires (07 dias), depois Mendoza (03 dias) e Santiago (5 dias) - sendo um dia para Viña del Mar e Valparaiso -, com o objetivo de conhecer a gastronomia, lugares turísticos, históricos, culturais, costumes, esportes de aventura e aprender espanhol.
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