Registro da Viagem de 2008 entre a Argentina e Chile, relatada dia a dia toda a experiencia vivida
quarta-feira, 23 de abril de 2008
Mochilão 2008 - Dia 02
Mais assaltos em terras portenhas
Ainda cedo, conheci meu vizinho de cama do albergue: José Luis Salido, espanhol de Barcelona, foi uma das primeiras pessoas com o qual pude treinar meu espanhol. Admirador de uma boa conversa, falamos um pouco sobre nossas viagens e sobre nossas vidas. Como não havia saido na noite anterior, eu já estava de pé bem cedo no domingo. Aproveitei para fazer uma das coisas que mais gosto de fazer: cooper. Foi uma ideia que veio bem a calhar, já que era uma forma bem saudável de fazer turismo. Devidamente fantasiado de corredor, desci para tomar café e pedi uma sugestão ao atendente do hostel de roteiro. De mapa aberto e dedo indicador apontando em trajetórias circulares, ele me sugeriu uma caminhada em volta de Puerto Madero. Vale lembrar que ainda nesse dia meu espanhol era deplorável e minha comunicação era um misto de inglês, espanhol e mímica. Um cooper de duas hora seria suficiente para voltar a tempo de encontrar com Karla, que ficou de passar no hostel as 10:00 e iniciar o nosso turismo portenho. Puerto Madero tem esse nome em homenagem ao comerciante Eduardo Madero que em 1882 apresentou o projeto de um porto, com fisionomia similar ao porto de Londres, ao governo nacional da Argentina. A construção foi aprovada e finalizada na última década do século XIX. Depois de vários problemas estruturais, o porto foi abandonado em meados de 1950 e ficou assim durante quase 50 anos mas, em 1989, o local do porto foi urbanizado e hoje é o bairro mais nobre e mais novo de Buenos Aires. Para um engenheiro e turista como eu, o cooper em Puerto Madero acabou se prolongando por muito tempo. Outro detalhe importante foi a inclusão de um fim de semana no tempo em que eu iria passar em Buenos Aires. Li em alguns sites que os cidadãos portenhos, diferente de São Paulo por exemplo, curtem a cidade nos sabados e domingos, e Buenos Aires acaba ficando mais interessante. Pessoas levando seus cachorros para passeiar, familias fazendo pic-nic no parque, ciclistas, patinadores, fotógrafos, gente de todo tipo curtindo a cidade de forma bem peculiar. Uma das obras mais interessantes de Puerto Madero é a Ponte de la Mujer, uma ponte de pedestres cuja arquitetura difere e muito do bairro como um todo. A ponte se move para permitir a passagem de navios e foi a primeira obra do arquiteto Santiago Calatrava construída na América Latina. Foi transportada, em partes, da Espanha para Buenos Aires em vários embarques. A estrutura de plástico da obra é interpretado pelo autor como a figura de um casal dançando tango, onde o mastro representa o homem e a silhueta curva da ponte, a mulher. É igualmente interessante e bonita, apesar d’eu achar a ponte muito estranha e divergente no visual do bairro. De volta da minha caminhada turística, já estava atrazado com relação à Karla, mas chegando no hostel, ela ainda não havia vindo, apenas ligado. Deu tempo de tomar um banho, trocar de roupa, tempo certo dela chegar ao Che Lagarto. Junto com a Karla, veio também uma amiga dela que conhecera na casa onde está hospedada: Jennifer. Nova Yorkina residente em Paris, Jennifer em nada lembrava uma americana e sim uma francesa. Era alta, elegante e bem magra. Estava em Buenos Aires à passeio, movida pela indicação de um amigo que havia falado que a capital argentina era “um dos melhores lugares para morar, junto com Paris”. Ela estava lá para comprovar esse fato. Interessante foram os motivos que a levaram a morar em Paris. Sempre julgando os nova-iorquinos frios e materialistas, ela foi movida pela dica desse amigo e se mudou para Paris, uma cidade mais romântica e mais humana. Estar em Buenos Aires seria uma espécie de desencargo de consciência dentro da sugestão de seu amigo. Em nosso roteiro de domingo iríamos conhecer a Feira de San Telmo, no bairro homônimo onde estava hospedado. Sempre acontecendo aos domingos essa tradicional feira, além das muitas barraquinhas com antigüidades, abriga artistas locais de todos os gêneros: de dançarinos de tango a mímicos, sendo palco, também, de artistas anônimos, em busca de alguns trocados e diversão.
Após uma boa caminhada por entre os suviniers, antiguidades e apresentações de rua, fomos a um típico café para almoçar. Interessante como todos restaurantes tem uma parte externa para atendimento e para ingressar de forma definitiva no cotidiano da capital argentina, tomar um bom vinho e comer nessa área externa eram indispendáveis. E todos os lugares onde você toma vinho o mesmo é servido de forma excepcional. Taças, um copo de água, um pouco de vinho para avaliar sua qualidade, a cultura do vinho é presente de forma definitiva em Buenos Aires. Acompanhado de um sanduiche de “jamón” – presunto – seguimos em nosso almoço até que um evento inusitado aconteceu, ou melhor, se repetiu. Um grupo de turistas italianos almoçava no restaurante do lado, quando alguem, da mesma forma sorrateira, uma pessoa pegou a bolsa de uma das senhoras e saiu de fininho, pegou um taxi e, antes que o mesmo desse partida, uma das pessoas do grupo se jogou na frente do carro, abriu a porta e arrancou o ladrão de dentro do automóvel, imobilizando-o. Em dois dias de Buenos Aires, fui testemunha ocular de dois assaltos mau sucedidos, praticamente un novo record! Como no dia anterior, a polícia algemou, interrogou e levou o elemento. De forma fiel ao meu roteiro de viagem, fomos eu e Karla fazer um city tour em uma empresa que, diferente das tradicionais, faz roteiros turísticos com bicicletas. A empresa se chama Bicicletas Naranjas e estava mais que anotada nos meus planos de viagem. Infelizmente a Jenifer não foi conosco, pois não estava usando tênis. De bicicleta as sensações de apreciação da cidade são mais vivenciais. Você pode conhecer as ruas, caminhos, pontos turísticos e “sentir” o que a cidade tem a lhe oferecer. Fomos a Parque Lezama, onde foi fundada a cidade de Buenos Aires, o bairro d´La Boca, el Carminito, estádio do Boca Juniors e circulamos o bairro de Puerto Madero seguido de uma parada na casa rosada e praça de mayo. Passeio super interessante e descontraido, mas de forma rápida, apenas para ter uma noção da abrangência dos pontos turísticos da cidade. Depois do passeio, voltamos à Puerto Madero a pé para conhecer uma barraca de Parrilla, ou seja, uma banca de rua que vende carnes. Muito legal, comi um choripan, que é um chorizo com pão francês, muitos molhos legais e um sabor típico de comida de rua. Caminhamos um pouco e Karla pegou um taxi para sua casa. Voltei para o hostel caminhando e curtindo um pouco do visual de Puerto Madero, bairro que me agradara muito. Antes de ir lá, passei na Catedral Metropolitana de Buenos Aires, estava tendo uma missa e resolvi parar para assistir. Qual a diferença da missa católica de Buenos Aires para as do Brasil? A língua, pois todo o ritual de celebração é idêntico. Interessante forma de treinar espanhol e pedir uma bença. Fim do dia, de volta ao hostel, precisava ligar pra casa pra saber da minha família. Pois triste notícia veio pelas ondas do telefone: minha avó que estava hospitalizada havia falecido na madrugada anterior. Péssima novidade para quem tinha engrenado na viagem. Início de férias bombástico ter que vivenciar um fato dessa magnitude a distância. Infelizmente não dá para conter as lágrimas nessa hora. O José Luis estava no balcão do pub do hostel e me deu uma força naquele momento, conversamos um pouco e tomamos um choop para desopilar. Ainda liguei para Karla, que também me deu uma força por telefone, e desmarquei qualquer programa que teria para a noite. A cabeça naquela hora não estava para festas. Esperei a bebida fazer um pouco de efeito e fui pra cama, era o melhor que eu tinha pra fazer naquela noite, dormir para no dia seguinte cedo ir para meu primeiro dia de aula de espanhol.
Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos e simplesmente ir ver
Relato cronológico da viagem feita entre 01/03 à 16/03 de 2008 entre a Argentina e o Chile, começando por Buenos Aires (07 dias), depois Mendoza (03 dias) e Santiago (5 dias) - sendo um dia para Viña del Mar e Valparaiso -, com o objetivo de conhecer a gastronomia, lugares turísticos, históricos, culturais, costumes, esportes de aventura e aprender espanhol.
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