Registro da Viagem de 2008 entre a Argentina e Chile, relatada dia a dia toda a experiencia vivida
sábado, 9 de agosto de 2008
Mochilão 2008 - Dia 06
Um ponto distante chamado maradona
Difícil acordar, pior ainda ter descoberto que havia perdido a hora. Tomei um banho nas pressas e comi no hostel. - Maldita ressaca - Pensei. Atrasado estava eu, sai correndo para a IBL para ver o resto da aula, não perdi tanto assim, mas detestava ter planejando tanto tempo uma viagem na qual estudar era uma das principais tarefas e não estar cumprindo. Bom, acho que estava exagerando, deveria curtir ao máximo a viagem, afinal de contas quando viria novamente pra cá? Encarando dessa forma a ressaca ficava mais leve. Aula difícil de levar pra frente, mas mantive meus olhos abertos com ajuda do café. Na programação da quinta feira estava reservada uma visita mais detalhada ao bairro da Boca. Nesse dia, minha programação despertou interesse de Eric e Mariah e os dois resolveram me acompanhar. Seguimos de ônibus para lá, nada dificil. A Boca é um bairro que, por sua localização próxima ao porto, foi habitada por muitos estrangeiros que chegavam para trabalhar. O bairro possui duas grandes atrações: O estádio do Boca Juniors (La Bombonera), time com maior quantidade de torcedores da Argentina e conhecido por serem absurdamente fanáticos por futebol, e o Caminito, onde parte do bairro foi restaurada. O Caminito tem uma característica peculiar: as casas são contruídas com tábuas de madeira, placas e telhas de metal e pintados com muitas cores, isso porque, quando os estrangeiros - principalmente espanhóis e italianos - construíam suas casas, usavas as tintas que sobravam dos navios do porto para pintá-las. Caminhamos pelas ruas do bairro, compramos alguns suvineirs e paramos para um almoço. Quando havia estado no bairro no domingo anterior (DIA 02), as poses de tango me custaram 10 pesos. No restaurante onde comemos tinha um show de tango muito legal com cantor, dançarinos e instrumentistas, e as poses de tango estavam inclusas no valor da refeição, ou seja, minha burrada me fez desperdiçar 10 pesos. Muito legal o almoço, a música e os dançarinos também estavam impecáveis.
Haveria um jogo do Boca Juniors naquele dia e estar no bairro onde foi fundado o time mais tradicional da argentina me despertou uma vontade de ver a partida. Havia um passeio turístico no hostel para o jogo e passei a dica para o casal de amigos, que acataram-na. Decididos a ver o jogo, fomos comprar algumas camisas do time e seguimos para o hostel de Eric e Mariah, para que os mesmos se arrumassem. Aproveitei esse tempo para dar um passeio no mercado de San Telmo, que ficava bem na frente do hostel deles. Foi lá que descobri o quanto os argentinos gostam de velharia, a tirar pela feira de San Telmo, o mercado tinha várias vendas que disponibilizavam todo e qualquer tipo de velharia para compra. Bem simples, não vinha a ser um ponto turístico relevante, mas uma rápida visita valia a pena, principalmente quando se espera os amigos tomarem banho. Fomos para o Che lagarto e lá já estavam algumas pessoas aguardando para ir também. O Cristian e o Jonas Vannay, um Suiço super gente fina, iriam também além de algumas caras conhecidas de meu convivio mochileiro que estavam no ônibus: gente do curso de espanhol e mesmo a canadense que fora minha parceira de Tango tinham o mesmo destino. Devidamente fardados de “hinchas boquenses” eu e Eric, acompanhado dos demais seguimos o passeio até La bombonera e, após revistas, detectores de metais e escadarias, nos acomodamos nas arquibancadas. Na argentina não é permitido bebidas alcóolicas nos estádios e na casa do Boca Junios, apenas se consumia sanduiches e Coca-cola. A propósito a Coca-Cola é o patrocinador oficial do Boca Juniors, cujo campo tem sua fachada decorado com o nome do patrocinador, porém não na cor vermelha tradicional, e sim na cor preta, porque o vemelhor é a cor do arque-time rival, o River Plates. A arquibancada era super inclinada dando maior proximidade do campo (o estádio todo era compacto para aproveitar o pouco espaço disponível na época da construção) e a arquibancada era super apertada. Assistia-se ao jogo de pé, sentar era apenas possível no intervalo, e mesmo assim essa tarefa deveria ser executada assim que fosse apitado o final do primeiro tempo, pois não sobraria espaço para descanso. O jogo seria Boca x Atlas pela Copa Santander Libertadores da América e o campo estava lotado, a torcida organizada do Boca Juniors, a La Doce, não parava de cantar. Eles tinha esse nome porque se consideram o 12º jogador em campo, não por menos. Levavam o time pra frente cantando sem parar diversas músicas, algumas debochando inclusive do River Plate, e para frente mesmo foi o time ganhando de 3 a 0 do Atlas. Para prestigiar o jogo estava lá Maradona em seu camarote, torcendo freneticamente pelo time que lhe projetou cuja devoção pelo craque é grande. Para meus olhos Maradona não passava de um ponto distante acenando para a multidão, cuja localização foi ajudada pelos torcedores que estavam ao meu lado. Programa caro, tendo em vista que o ingresso custava 24 pesos porém o passeio turístico com o ingresso custava 100 pesos, mas que valia muito a pena, até mesmo para pessoas como eu que detestam futebol. De volta para o Hostel, hora de dar uma geral na mochila. Roupas sujas, jogadas, carregador de maquina fotográfica solto, toalha... todos nos seus devidos lugares. Deveria deixar tudo organizado para seguir viagem no dia seguinte pois minha estadia em Buenos Aires estava chegando ao fim. Ainda me restava uma noite e, como sempre, o Cristian tinha uma programação certa. Depois de mochila e mochileiro devidamente arrumados, guardei minha companheira de viagem e desci para me encontrar com o Cristian. Havia um grupo de pessoas,não me lembro a nacionalidade, que iriam dividir o taxi conosco. Fomos até o quarto deles aguardar alguns se arrumarem e tomar uma antes de sair. Até hoje gostaria de ter aprendido aquilo, mas a turma jogava baralho cujo objetivo era sempre beber. E não era apenas um jogo e sim vários. Dependendo das cartas que se tirava, tinha que beber, ou virar, ou beber sem parar até que o companheiro parasse primeiro, enfim... Bebi uma garrafa de vinho em menos de 10 min, um índice olímpico! Depois de todos prontos e “afinados”, pegamos um taxi para o 69 Club. A princípio uma boate como qualquer outra, mas que depois se mostraria mais um local surpreendente da capital portenha. Algumas garrafas de espulmante e vinhos depois, vejo um grupo caracterizado entrar no recinto e se dirigir para o palco na frente da pista de dança. Bem cômicos mas com certo apelo erótico, o grupo fazia encenações em palco de forma bem descontraia, sensual e dançante. O mais legal é que a medida que a noite ia passando, as apresentações iam ficando mais “calientes” e culminavam um strip-tease sensasional. Engana-se quem só tinha homens na boate, haviam mulheres e muitas, em nada a boate lembrava uma casa de serviços sexuais. Os homens babavam e as mulheres se divertiam, tudo na maior descontração. Fim de noite, de volta pra casa. Ainda paramos em uma lanchonete que, a propósito, existem em várias nas noites abertas para servir esfomeados baladeiros. Comemos alguns cachorros quentes, com molhos que só tinha visto mesmo por lá. Via-se ao longe o obelisco, único monumento que optei por não visitar por julga-lo não merecedor de um tempo até mesmo pelo fato de ter passado várias vezes de taxi ao seu lado e crê que já havia visto suficiente. De volta para o hostel, sem mais nem longas, cama e “buenas noches”.
Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos e simplesmente ir ver
Relato cronológico da viagem feita entre 01/03 à 16/03 de 2008 entre a Argentina e o Chile, começando por Buenos Aires (07 dias), depois Mendoza (03 dias) e Santiago (5 dias) - sendo um dia para Viña del Mar e Valparaiso -, com o objetivo de conhecer a gastronomia, lugares turísticos, históricos, culturais, costumes, esportes de aventura e aprender espanhol.
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