Meus olhos se abriram com uma certa dificuldade. O sol se mostrava ainda omisso mas alguns raios resplandeciam no horizonte e eles me mostravam o que o mundo todo lembra quando se ouve em falar na província de Mendoza: seus vinhais. Eram grandes e bem cuidados, pareciam não ter fim. Viajar pelo nordeste brasileiro em meios de transporte terrestre trazia as vistas uma paisagem de plantações e mais plantações de cana-de-açucar e essa mesma sensação eu estava tendo viajando pelas estradas de Mendoza, apenas trocando o produto plantado. À medida que o sol raiava a silueta da Cordilheira dos Andes se apresentava na paisagem como grandes protuberâncias gananciosas em serem primeiramente iluminadas pelos raios solares da manhã. Fantástica combinação! Os Andes ao fundo e os vinhais percorrendo a linha da minha visão. Só essa visão já iniciava com satisfação um dos principais motivos da minha visita à Mendoza: Conhecer seus vinhos e a cordilheira dos Andes.
O primeiro dia de estadia seria destinado apenas ao city tour. Um dia livre para conhecer a cidade e retomar a tarefa de fazer amigos e sair para novos lugares. Importante decisão deixando em aberto a agenda para possíveis empecilhos na viagem, que até o presente momento estava perfeita e superando qualquer expectativa inicial.
Chegando a rodoviário comprei logo um jornal para me interar sobre a cidade. Grande surpresa, aquele dia seria o dia da maior festa da cidade, a Vindimia 2008, algo como a festa da uva e do vinho. O jornal separava páginas e mais páginas para falar do festival que já tinha eventos ocorendo nos últimos 3 meses e naquele dia seria a festa maior, onde seria escolhida a Rainha da Vindimia 2008 em um grande espetaculo de show e dança.
Peguei um taxi e descobri que meu espanhol ficara em Buenos Aires: O sotaque espanhol nas regiões distantes do rio da prata é diferente e acaba por dificultar o meu entendimento. Novo hostel a vista, minha nova moradia seria a Huellas Andinas, opção feita devido ao forte apelo esportivo presente nas minhas pesquisas.
Gente de todas as idades, dos 30 aos 70 anos, algumas crianças e jovens claro, mas a maioria pessoas da meia vida pro fim. Guardas de trânsito, reporters de jornais, tudo para um festejo que seria a prévia da noite que estava por vir. Logo procurei me informar da dinâmica do evento: cada rainha representava um “departamento” da província de Mendoza, como assim eram divididas as provinciais argentinas. Cada rainha oferendava aos “súditos” o produto característico de seu departamento, em sua maioria uvas, mas também tinham maças, peras e melhões, que eram arremeçados para as pessoas que estavam em volta do desfile, com exceção do melão por motivos óbvios. Algumas pessoas criavam um dispositivo composto de cabo de vassoura com um balde no topo que servia para pegar a fruta diretamente da mão da rainha, ou de uma de suas auxiliares.
O desfile era grande e bonito, chegava a enfadar mas não por culpa da demora e sim do meu cansasso. Havia apresentações de carros antigos, gauchos, danças do ventre, grupos peruanos, colombianos, uruguaios... uma variedade imensa. Carros da prefeitura distribuindo camisinhas, até mesmo algumas rainhas “alternativas” digamos, Rainha da água, rainha da terra, até rainha travesti... tinha lugar para todas as dinastias, até mesmo para um grupo de protestantes que reclamavam da instalação de uma mina nas proximidade de uma fonte de água que abastecia a cidade que, digo de passagem, ficava no meio de um deserto.
Depois do desfile fomos dar uma volta para comer pela cidade. Nossa, cidade super esquisita. Parada com todos os estabelecimentos fechados. Era a siesta, coisa que nunca tinha visto na prática e que estava odiando. Depois do almoço todos fecham as portas e vão dormir, só reabrem as 17:00. Dei um passeio nas ruas e logo voltei pra casa na esperança de ainda ter um ingresso para a festa maior que acontecedia à noite. Doce ilusão, os ingressos que já estavam sendo vendidos faziam 3 meses estavam esgotados. Pensei em desistir, mas toda a cidade estaria la e eu não queria estar de fora do evento. Decidi ir com meu novo par de amigos, arricar a sorte por la, apesar de que eles já haviam se precavido e comprado os ingressos, tinha plena certeza que a função de cambista não era uma ideia exclusivamente brasileira. Fui tomar banho para sair, banheiro horrível, pequeno, com pouca água que escorria pelas paredes. Pouco funcional, não tinha onde pendurar as coisas e já estava começando a pegar abuso daquele lugar. Banho de gato tomado, hora de ir para o festival.
O lugar ficava em um espaço entre alguns morros chamado “teatro grego”.
???????
Tango eletrônico? Nunca ouvi falar, nem ouvi ouvir. Mas parecia legal.
Depois música para todos dançarem. Salsa, ritmos caribenhos, pagode..... isso mesmo, musica brasileira da pior qualidade, mas o pessoal me transformava no centro das atenções quando começou a tocar. Logo na seqüencia, Asa de Águia e a dança do vampiro....
Ao final a eleição da rainha da uva. Voto a voto as torcidas gritavam freneticamente aguardando o resultado final. E a campeã , adivinhem só: foi a rainha de tunpugato.
- Brasileiro pé quente !!! – pensei. E a festa estava garantida com a torcida a qual eu participava.
Fim de festa, a multidão voltando para seus carros ou para pegar os ônibus. Caminhada leve e com destino ao coletivo em meio a multidão. De volta ao albergue, buscar minha cama no meio do quarto escuro e pequeno, amotoado de beliches e lençois maucheirosos, sem banho para não tem que encarar aquele banheiro horrível mais uma vez. Para a minha sorte o cansaço era mais forte que tudo isso.
Notas:
Mendoza
Huellas Andinas Hostel
Vindimia 2008
Um comentário:
"Cada rainha oferendava aos “súditos” o produto característico de seu departamento, em sua maioria uvas, mas também tinham maças, peras e melhões, que eram arremeçados para as pessoas que estavam em volta do desfile, com exceção do melão por motivos óbvios."
AINDA BEM QUE A JACA NÃO É UMA FRUTA TÍPICA ARGENTINA...
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