Acordei e fui logo terminar de arrumas as coisas. O Luan insistentemente pedia que eu não fosse pois aquele dia seria a festa de 4 anos do hostel, e viriam mochileiros de todos os hostels para a festa. Não queria arriscar, até então a viagem estava dando certo sendo bem amarrada como estava. Dessa vez não levei a mochila para perambular pela cidade, experiência essa que havia ocasionado o baita estralo nas de dias atrás, mas deixei-a no hostel enquanto caminharia pela cidade antes da hora de ir ao aeroporto. Sai pela cidade para me despedir de seu cotidiano e de sua rotina. Parada para visitar o Palacio de la moneda e a Plaza de las armas com mais detalhes, segui para o mercado de Santiago para dar uma volta como não havia dando antes. Caminhei entre as tendas de crustáceos e demais iguarias, olhar atento a vida do mercado e suas nuâncias. No meio da caminhada o que vejo: um freezer com o refrigerante Crush, clássico oitencetista brasileiro, aqui em Santiago vendia com o mesmo nome e logomarca. Comprei para ver se o sabor era o mesmo, porém não era. Coincidências a parte eu estava com uma camisa com a logomarca desse refrigerante, que comprava em Recife, talvez isso justificasse alguns olhares estranhos direcionados a camisa por parte de algumas pessoas que cruzavam comigo. Segui minha caminhada e guardei a lata para levar ao Brasil de recordação. Segui para o museu de arte pré-colombiana de Santiago, fiz uma visita rápida para conhecer artigos das culturas maias, incas e astecas do continente latino-americano - interessante visita. Desci mais um pouco para um dos poucos lugares que havia separado com muito carinho para visitar. Única sugestão que levei mais a cargo do livro “viajar é o maior barato” que tenho a tempos em minha biblioteca particular e nunca havia utilizado, o Ricón de los canallas, é um restaurante que existe desde os tempos da ditadura e era ponto de encontro de um grupo de amigos para discussões políticas que poderiam não agradar a Pinochet no período em que o mesmo governava o país a mão de ferro. Ao bater na porta se ouvia-se do outro lado alguém perguntando: “Canalla??” e a resposta era das mas diversas. Hoje, um restaurante que respira nostalgia e espontaneidade, com suas paredes recheadas de recados de turistas do mundo todo, seja escritos em cartões de visita, guardanapos, ate mesmo em cuecas, todos grampeados nas paredes e nos tetos. Mas não só pela nostalgia do lugar que eu cheguei lá, o livro também falava de uma deliciosa costela. Cheguei antes do horário de abertura, mas a simpática dona fez uma exceção para mim e logo adentrei ao recinto. Sentei meio tímido e pedi a costela. Olhava as paredes cheia de recados imaginando o quanto de pessoas já tinham ido lá e mergulhado naquele ambiente nascido da espontaneidade de seus donos. Idealizadores seria uma palavra equivocada para aplicar aos donos de um recinto nascido fruto da naturalidade de suas brincadeiras e aspirações. Comi a costela acompanhada, pela primeira vez em 15 dias, de arroz. Estava sentindo falta dessa iguaria, porém o feijão teria que aguardar mais um pouco. Escrevi um recado que deixara na parede do hostel, no ticket de embarque do meu vôo para Buenos Aires, e fixei na parede. Me despedi dos donos e segui meu rumo.
Voltei para o hostel para pegar a minha mochila, era chegada a hora de ir ao aeroporto. Quem estava no hostel era a Daniela que havia me recebido no hostel e agora se despedia de mim com a mesma simpatia. Segui de ônibus e cheguei no aeroporto cedo para não correr riscos, mas ainda estava super preocupado com o envio dos vinhos cujos mesmo foram embalados com muito cuidado e diversas recomendações foram dadas a mulher do check-in que etiquetou com a mensagem “frágil” a mala separada para eles. Apenas o vinho branco e os piscos ficaram na mochila principal pois se viessem a quebrar, não manchariam as roupas. Rodei o aeroporto todo, fiz hora e entrei na sala de embarque. Liguei para saber da minha mãe e, para terminar o cartão telefônico, liguei para minha amiga clara, para contar da viagem. Os últimos pesos chilenos gastei em uma lan house e alguns doces. Por coincidência tinha um rapaz que estava no hostel que pegou o mesmo vôo que eu para Buenos Aires. Conversamos um pouco e, dada a hora, entramos na aeronave.
Fantástica a vista da cordilheira dos Andes do alto. 7 horas de ônibus agora cabiam em uma pequena janela do Airbus, com direito a vista para o Aconcágua, ponto mais alto das Américas. Os primeiros minutos de vôo eram fantásticos, seguido do por do sol e de escuridão nos minutos finais. Apenas uma hora e meia de vôo e algumas turbulências separavam as duas capitais sulamericanas.
Chegando a Buenos Aires, logo troquei idéias com o colega de hostel que estava no mesmo vôo, combinamos de rachar um taxi e ele, que não tinha hostel certo ainda, iria ao Che lagarto comigo para ver se tinha vaga. Legal o comentário dele assim que pisamos em solo portenho:
- Basta pisar sair de Santiago que você começa a ver bunda!
Realmente as chilenas eram desprovidas de beleza facial e corporal, em geral eram feias de tudo. As argentinas e colombianas eram as mais bonitas. As brasileiras, sou suspeito para falar.
A espera pelas malas, para mim, é sempre uma tortura. Medo de ter as malas desviadas e, nesse caso, ter as garrafas de vinhos quebradas atormentavam a minha cabeça. Depois de muitas malas girando na esteira o pior aconteceu: a mala dos vinhos estava rodeada de uma grande mancha de vinho, minha expressão facial não era das melhores. Peguei a mala e abri-a com cuidado, cacos e mais cacos de vidro misturados com o vinho espalhado e pingando no piso do aeroporto, nossa fiquei furioso. Perguntava aos funcionários como isso poderia ter acontecido se eu havia colocado “frágil” na mala mas as expressões eram sempre de “infelizmente aconteceu”. Joguei todo o vidro no lixo do banheiro, lavei a maleta e a toalha que estava enrolada nos vinhos e guardei tudo na mochila. Apenas 2 garrafas haviam sobrevivido ao massacre e guardei elas na mochila também, depois de devidamente lavadas. Seguimos para pegar um taxi e fomos ao Che lagarto. Expressava minha frustração em forma de reclamações constantes ao longo do trajeto, não havia outra forma de ficar mais decepcionado com uma coisa que eu pensei desde o começo da viagem, mas que na prática não havia feito muito. Vi que por mais que eu tivesse envolvido as garrafas nada escaparia de um arremesso preciso e descuidado dos maleiros do aeroporto.
A chegada ao hostel foi muito legal. Por um momento havia esquecido o problema dos vinhos e estava a reencontrar varias pessoas de algumas semanas atrás. O Martin estava lá com sua “boludeza” trabalhando no bar, o pessoal da recepção, os noruegueses que foram para o 69 Club, muitas caras conhecidas que me recebiam com festa e cuja retribuição era a altura. Muito legal rever a turma, ou melhor, parte dela, como sempre bebendo nos inícios de noite do hostel. Fiz meu check-in, mas infelizmente não tinha mais vagas para o meu amigo que veio de Santiago, que teve que pegar um taxi para outro hostel e procurar uma vaga. Acomodei as coisas e liguei para marcela, havia marcado de sair naquela noite com ela, coisa que não tinha acontecido a 1 semana atrás devida a sua viagem. Tomei um banho de gato já que a toalha estava ensopada de vinho e fiquei no pub do hostel bebendo com a turma e conversando até marcela chegar.
Depois de um tempo, chegaram marcela e seus amigos, seguimos rua abaixo para o Museum, mas antes parei no armazém que sempre tomava uma quando voltava das bebedeiras de uma semana antes, para falar com o dono. Ele também se lembrava de mim e disse que aquela era a minha última noite em Buenos Aires, contei rapidamente da minha viagem e nos despedimos. Gente muito boa. Chegamos no museus porém o show que estava rolando já havia terminado. Fomos para um bar perto da Praça de San Telmo, bem boêmio e aconchegante, do jeito que gosto. Bebemos bastante e conversamos muito. Interessante como meu espanhol estava fluente, creio que o álcool ajudava, mas eu conversava bem com os amigos de marcela. Um deles chegou até a questionar o fato de Marcela ter dito que eu não falava espanhol, e realmente eu não falava, mas era legal essa surpresa não só dele como minha também, em ver que meu espanhol estava bastante afinado. Ficamos um bom tempo lá e depois fomos para um bar mais dançante um pouco mais afastado. Alguns amigos de Marcela voltaram pra casa e ficamos em menor grupo nesse bar. O mesmo se chamava [nome do bar] e era super legal. Bem movimentado, as pessoas bebiam na sua maioria de pé e tocavam bandas em um palco no térreo, porém no horário que chegamos apenas estava tocando musica de playback. Conversamos muito nessa noite e bebemos muito também. Tomei mais da tekila sunrice a qual havia aprendido a gostar no Museum. Saímos tarde da noite, cada um para o seu destino Marcela em um taxi para Olivos e eu para San Telmo, de volta ao Che Lagarto. Mais uma despedida, só que essa era mais difícil. Marcela era uma super amiga e saberia que não a viria em breve.
Fui para o hostel muito “boracho”. Não me lembro bem como cheguei, mas cheguei bem. Dormi o último sono da minha viagem e agora definitivamente ela tinha chegado à sua reta final.
Nenhum comentário:
Postar um comentário