Acordei cedo para aguardar Elaine e seguirmos nosso roteiro naquele dia. Havia também combinado para ir com a Hilda, mas por algum motivo que não lembro, ela não pode ir. Marcamos no próprio Che lagarto e seguimos de metrô para o bairro Bellavista, ponto pouco mais distante onde se encontrava um punhado de atrações que iríamos visitar naquele dia. O primeiro ponto de parada foi o Morro (ou “Cerro”, em espanhol) San Cristóbal, segundo ponto mais alto da cidade e também o parque municipal. Nesse “complexo” esta localizado o zoológico de Santiago, um anfiteatro e um santuário. O caminho da subida poderia ser feito a pé, mas o meio de transporte mais usual (e mais racional, a não ser que você seja um triatleta) é o funicular, espécie de trenzinho em forma de escada. Mas antes providenciei e comprar um suvenier de meu particular interesse: um gorro de frio do tipo que se usa nos Andes. Não me pergunte porque mas sempre quis ter um desses. Logo de cara se vê porque uma subida a pé seria insana. O simpático funicular sobe muito até chegar a ultima estação. No caminho para quem quiser descer tem o zoológico em um nível mais intermediário, porém somente o cume interessa (fiz esse trocadilho intensional). Eu e Elaine ainda caminhamos um bocado para subir, tiramos algumas fotos e tivemos uma ótima idéia: cada um ficaria de posse da máquina do outro, tirando fotos do parceiro evitando o famoso: “eita, toma a minha máquina e tira uma foto minha aqui”, isso nos rendeu muito tempo e muitas fotos um do outro. Creio que foi a fase da viagem que mais tirei fotos minhas, ou melhor, tiraram, no caso a Elaine. A vista da cidade era fantástica, seria melhor se não fosse a intensa nuvem de poluição que cobre a cidade de Santiago. A vista dos Andes se resume a uma silueta longínqua e que por muitas vezes depende da imaginação do observador. No ponto mais alto havia uma estátua da virgem Maria, grande e saudosa, enchia os olhos que quem chegava. Tiramos milhares de fotos, sentamos um pouco para conversar e apreciar a paisagem. Pelo menos nesse trecho da viagem eu tinha uma espécie de dupla para conversar, diferente de outras vezes onde eu pertencia a um grupo, companhias esporádicas ou mesmo sozinho planejando meus trajetos. E a vantagem fotográfica que a Elaine trazia eram grandes, eu detestava tirar fotos apenas do ambiente, gostava de protagonizar as fotos de preferência bem naturalmente como em várias que foram tiradas e a Elaine era boa nisso. A Elaine era uma pessoa bem tranqüila, havia trabalhado na Nova Zelândia por algum tempo e tinha inclusive deixado um namorado lá a sua espera. De fala mansa, estava indo de volta para fortaleza onde residia sua família, para aguardar novos trabalhos no exterior, possivelmente na nova Zelândia ou em outros lugares. Cogitou inclusive de ir trabalhar em algum cruzeiro, mas ainda estava por decidir. Não falava espanhol mas eu sempre a auxiliava nesse ponto. Sua tranqüilidade por vezes parecia incoveniente com minhas constantes brincadeiras e jeito falastrão de falar da minha vida, mas logo vi que não se tratava disso por vezes rindo e ouvindo atentamente o que eu falava e fazia. Descemos a uma loja de artigos religiosos e pensei em comprar alguma lembrança para a minha mãe, tanto pela religiosidade dela quanto da minha falecida avó, cujo suvenier poderia trazer conforto espiritual naquele momento difícil que a família atravessava. A Elaine também era bastante religiosa e comprou diversas imagens, inclusive perguntou ao vendedor se um padre poderia benzê-las. Achei que ouviria uma negativa ou desculpa seguida de olhar de desdém, mas o vendedor foi bastante solicito e chamou via rádio o diácono do santuário para vir atender a solicitação da minha amiga. Conversamos um pouco sobre nossos países e descobri que o Chile tinha 2 santos reconhecidos pela igreja, fato que trouxe certo ar de brincadeira e alegria para o clima da conversa pois o vendedor disse que a maioria dos brasileiros o frustram dizendo sempre que o Brasil é o maior, melhor ou que tem mais em todos os aspectos que o Chile, e agora ele sabia que o Chile tinha mais santos que o Brasil e poderia brincar com essa informação para com os demais turistas brasileiros vindouros. O diácono chegou, também muito simpático, e abençoou as imagens. Agradecemos e seguimos nosso rumo em direção a mais uma atração das redondezas. Descemos do funicular e buscamos logo nos informar de como chegar na “La Chascona”, uma das três casas do poeta maior chileno, Pablo Neruda, que agora se tornara um museu em memória ao poeta, bem como as demais que ficam em Valparaiso e Isla Negra, todas sob a administração da Fundação Neruda. Pablo Neruda é considerado um dos poetas mais influentes do mundo. Premio Nobel de literatura de 1974, participou do partido comunista e foi duramente perseguido pela direita, motivo pelo qual foi exilado e, com a ascenção de Augusto Pinochet após o golpe militar, teve essa casa saqueada e diversos livros queimados. A “La Chascona” foi construída para abrigar os encontros amorosos de Pablo Neruda e Matilde, inicialmente amante e posterior esposa fruto de um casamento não reconhecido tendo em vista que o poeta ainda era casado aos olhos da lei. A casa é grande, bem diferente das tradicionais que conhecemos. Com várias divisórias, área verde e uma parte interna com teto baixo, estadas, janelinhas e piso inclinado, tudo isso para imitar a parte interna de um barco cujo mar era uma das grandes paixões de Pablo. Fizemos uma visita guiada em espanhol pela casa, onde conhecemos todos esse detalhes, bem como alguns outros: a medalha do premio Nobel, manuscritos do poeta, sua coleção de copos coloridos, um armário que esconde uma passagem secreta... ver todos os detalhes e sutilezas da casa traduziam a vida e obra do poeta chileno, seus pensamentos e sua história. Saímos com as mentes cheia de novidades e pensativos de quanta coisa legal existe aqui do lado, no nosso continente, e não enxergamos. Bem perto da "La Chascona", fomos para uma parte do roteiro de sugestão da Elaine, um restaurante chamado “Como água para chocolate”. O nome não fazia sentido para mim, mas o restaurante era muito belo. O local era bastante exótico, lembrava um estabelecimento oriental, videiras pelos corrimões das escadas, cores avermelhadas, local de aspecto rústico mas proposital e de muito bom gosto, um restaurante ideal para levar a namorada, esposa ou companheira, o que não era meu caso com a Elaine. Conversamos bastante e comemos nossos pratos individuais, muito deliciosos por sinal. Terminamos a refeição e concluímos nosso passeio, voltando para as redondezas dos nossos hostels na esperança de pegar o mercado de Santiago aberto. Tomamos um metrô e seguimos caminhando, aproveitamos para visitar algumas igrejas próximas que estavam abertas. Visitamos a Igreja de São Francisco, a mais antiga igreja de Santiago, abriga a imagem da Virgem Maria, trazida do Perú para o Chile no início do século XVI pelo explorador Pedro de Valdivia, integrante da primeira expedição espanhola à região. Também exploramos melhor a catedral metropolitana e apreciamos seus adornos e suas imagens. A oportunidade serviu para finalmente saber quem eram os dois santos chilenos citados pelo vendedor da loja de artigos religiosos: a Santa Tereza de los Andes e Alberto Furtado, cujas imagens estavam em uma das igrejas. Também vi um confesionário, coisa que a tempos não via, e algum fiel delatando seus pecados para o padre em busca de perdão. Nas proximidades do hostel existam algumas igrejas, todas majestosas cujo porte refletindo a religiosidade dos chilenos. Seguimos em direção do mercado e como sempre participar do cotidiano da cidade de Santiago era uma atração à parte. Fora os tradicionais artistas de rua que já eram praxe, haviam grupos de estudantes recém-ingressos na faculdade pedindo dinheiro para algum fim, creio que a festa de calouros. Detalhe: todos estavam sujos de farinha, ovos e qualquer porqueira, além de estar com as roupas rasgadas e maltrapilhas, fruto de trote. Havia visto alguns logo que desembarquei em Santiago, mas dia após dia sempre os encontrava. Outra atração que vale a pena ser citada era uma banda chamada “Fuga” que estava tocando na rua. Justamente na hora em que estávamos passando eles estavam tocando, em espanhol claro, “Amigo” de Roberto Carlos. Parei para escutar e comprei um CD.
Finalmente chegamos ao mercado e ele estava aberto, ou melhor, fechando. Conseguimos entrar e observar seu interior. Interessante como qualquer mercado público do mundo parece igual, o mercado de São José em Recife é muito semelhante ao de Santiago, por exemplo. Estrutura de ferro, feirantes disputando no grito os clientes e sujeira básica. Haviam alguns restaurantes em seu interior e escolhemos um deles que ainda estava aberto para experimentar os frutos do mar tão falados do Chile. A vasta costa marinha chilena dava a este país uma forte tradição pesqueira. Seus frutos do mar são muito famosos e os pescados do Pacífico são bem diferentes dos nossos do Atlântico. Pedimos um ensopado que mais lembrava uma sinfonia marítima, com peixe, mariscos e outros seres que visualmente eram difíceis de distinguir, e talvez fosse realmente interessante não saber a procedência para não criar um bloqueio mental. O ensopado estava uma delícia, mas essa escolha não teve nosso mérito. O garçom muito simpático e conversador, nos fez essa sugestão unanimemente aprovada e seu bom papo complementava uma refeição super agradável. Saímos do mercado e me despedi de Elaine, porém ainda estava disposto a caminhar mais, pois o sol estava reluzente no céu. A propósito caminhar viria a se tornar uma atividade muito prazerosa em Santiago e toda a dinâmica social da cidade era um ótimo atrativo. Voltando pela Plaza de Las Armas, havia muita gente reunida na frente da Catedral Metropolitana onde dois caras contavam piadas e, pela risada, deveriam ser engraçadas, porém a velocidade com que eles contavam tornava a interpretação difícil. Algumas pessoas convocando as pessoas para um protesto em frente à embaixada americana, os pintores e jogadores de xadrez de sempre, gente e mais gente caminhando para todos os cantos, e em frente a Casa de La Moneda os guardas de sempre tomando conta da sede presidencial. Voltei para o hostel e, para usufruir da infraestrutura de cozinha que o local oferecia, procurei saber onde tinha um supermercado. Logo conheci o Santa Isabel, pequeno mas que tinha tudo o que precisava, inclusive bebidas de todos os tipos. Comprei material necessário para fazer uma bela macarronada e uma garrafa de vinho para acompanhar, além de um enorme saco de batatas fritas que me enchera os olhos. No hostel, fiz meu jantar e tomei a garrafa de vinho. Agradabilíssimo, acho que foi o melhor jantar individual que eu já fizera. Havia um casal de aspecto europeu que cozinhara antes de mim e ambos tinham uma mão cheia, fizeram uma macarronada que serviu de inspiração para a minha. Havia conhecido um sujeito muito rapidamente no dia anterior, o Marc Puszicha, um alemão estudante de cinema que estava de viagem pela América para conhecer o cinema de nosso continente. Gostava muito de falar de tudo, principalmente de cinema cujo gosto compartilhava. Ficamos na cozinha conversando e ele logo ofereceu para tomarmos Pisco, um destilado de uva que está para os chilenos assim como a cachaça para os brasileiros, a tequila para os mexicanos ou mesmo o saquê para os japoneses cujo interesse havia me sido despertado no período do projeto da viagem, fruto das muitas sugestões da internet e que havia incluído nas minhas metas de viagem levar pelo menos uma garrafa para o Brasil. Conversamos muito nessa noite e, a nossa conversa, um brasileiro de cabelo rastafári também participara algum tempo depois. Temas “cabeças” eram o forte da noite, incluindo religião, sociedade e todo tipo de tema polêmico. Apesar da interessante conversa, fui para a cama logo pois no dia seguinte teria que acordar cedo. Pedi para que a recepcionista incomodasse meu sono às 5 da manhã e fui dormir ajudado pelo vinho de forma satisfatória.
Acordei ainda de madrugada, o sol nem havia nascido e eu com todo o cuidado do mundo tirava minhas coisas devidamente arrumadas do quarto para a sala, em silêncio e sob a luz do display do celular para não acordar os demais companheiros de quarto. Tomei café e pedi um taxi, paguei as contas e ainda cumprimentei o German que acordara cedo para ir ao banheiro. Mendoza iria deixar saudades, mas também frustrações, grande parte delas de minha inteira responsabilidade. Um sentimento de comodismo não me fez buscar mais diversão, talvez motivado pelo peso da grana que gastara em Buenos Aires, a falta de pessoas que gostavam realmente de se divertir e a calmaria da cidade refletida nas siestas diárias justamente nos horários em que eu preferia caminhar pela cidade... Bem, creio que esse sentimento não terminaria com Mendoza mas novos horizontes estavam por vir e eram neles que minha mente estava focado agora. Comprei a passagem e entrei no ônibus sob o céu laranja do amanhecer. Poderia ter viajado pela madrugada, 7 horas de ônibus saindo na calada da noite poderiam me economizar uma diária e a experiência bem sucedida entre Buenos Aires e Mendoza serviriam de motivação. Porém, outras aspirações me fizeram optar por perder metade de um dia dentro de um ônibus. Das muitas dicas de viagem que havia coletado, uma delas falava sobre a vista fantástica de cruzar os Andes dentro de um ônibus, ou carro, e essa vista seria difícil durante da madrugada valendo assim uma travessia diurna pela estrada. Seu início me era familiar, fora o caminho até a base do Rios Andinos, empresa de rafting no dia anterior e inclusive passei por ela. Houve um acidente na estrada, logo no começo, que fez a viagem aumentar em 1 hora. Dois policiais mortos em uma perda de rumo na estrada que terminara com a viatura destruída no acostamento – Triste - Estava eu de pé vendo o movimento de viaturas e carros passando e o ônibus parado na estrada. O frio dos Andes naquela hora da manhã era grande e a neblina intensa. Seguida a viagem, terreno montanhoso e muitas curvas, descidas e subidas, por muitas vezes em zigue zague, não tirava os olhos da paisagem, montanhas gigantescas que pareciam não ter fim. Como minha fiel companheira de colo estava o vinho de 90 pesos como bagagem de mão para evitar surpresas de maleiros descuidados. O tempo passava rápido, a paisagem me entretia, era deslumbrante a vista dos Andes de dentro dos Andes. Estações de esqui desativadas no verão, estações de eletricidade, linha de trem, influências antrópicas eram inevitáveis naquela natureza gigantesca. E quem imagina que natureza eram só arvores e cachoeiras concluía que também existe beleza natural em meio a pedras e gelo.
Parando na Alfândega chilena, o clima super frio do lado de fora do ônibus enquanto aguardávamos autorização para entrar informava que eu havia escolhido roupas inadequadas para a viagem. A alfândega era uma estrutura com um grande portão que criava um ambiente agradável internamente, deixando do lado de fora o frio que ainda estava longe de ser um verdadeiro frio de inverno, a neve era vista apenas distante, no topo das montanhas, algumas caindo lá de cima derretendo com o crescente calor do dia que surgia. Mas a frieza não só vinha das gélidas montanhas, como também do interior dos guardas. Demora, troca de cartão de imigração, instruções sobre alimentos que não poderiam entrar no Chile, contrabando, coisas do tipo. As malas foram retiradas para passar pelo raio X e cães farejadores vasculhavam nossas mochilas em busca de artefatos ilegais, tudo isso sob olhares cerrados, autoritários e julgosos. Depois de tanto tempo seguimos viagem, já em solo chileno, percorrendo o restante dos Andes que ainda estavam à frente, aos poucos surgiam vilarejos e casas de veraneio. As montanhas iam ficando para trás e a expectativa da chegada a Santiago era grande, mas muito chão ainda vinha pela frente. A graça de toda viagem já passara e agora circular entre conjuntos habitacionais e áreas industriais estava enfadonho. Não pude distinguir o momento exato, mas um determinado momento percebi que já estava em Santiago do Chile, chegando à estação de ônibus e na expectativa de pisar em solo chileno pela primeira vez. Na estação peguei a mochila e dei algumas voltas, as vezes passava pelo mesmo lugar, como se estivesse fazendo um reconhecimento de campo, ou mesmo vendo como a dinâmica daquela nova cidade funcionava. Estava com medo de pegar um taxi, pois todas as coisas que ouvira sobre os taxistas chilenos falavam de sua malandragem. Às vezes as pessoas perguntavam se eu precisava de ajuda, eu negava não dando muita atenção. Logo identifiquei como chegar ao hostel pelo metro, que tinha uma estação bem perto. A propósito o metrô de Santiago é algo que merece destaque e essa opinião não é apenas minha. O metrô de Santiago é limpo, organizado, pontual, abrange toda a cidade e, assim como toda a rede de transporte da cidade, é impecável. Grandes avenidas bem sinalizadas, com faixas de ônibus exclusivas que também eram organizados e limpos, e o metrô era agradabilíssimo de andar. Ao descer na estação Los Heroes, cheguei ao meu mais novo endereço: o Che Lagarto Santiago. Se hospedar em um Che lagarto dava desconto de 10% para se hospedar em outro e os preços do Che que já eram convidativos tornavam a estadia mais econômica ainda. O novo Che lagarto em que estava era mais limpo e confortável do que o de Buenos Aires, sua área era mais ampla e possuíam serviços que não tinham no anterior como lavanderia e aluguel de toalha. Esse última de suma importância pois minha toalha estava molhada desde Mendoza por ter estendido a mesma e uma maldita chuva ter deixado ela mais encharcada do que antes. E por falar em toalha eu realmente precisava de um bom banho e era isso que eu faria. A recepcionista super simpática e atenciosa mostrou-me todo o hostel, suas acomodações e salas, o quarto onde dormiria e os beliches de metal pesado que não rangiam quando alguém subia nele. A única desvantagem do hostel era a falta do Pub que tinha no de Buenos Aires, onde a possibilidade de interação com demais mochileiros era maior. De toalha alugada e mochila acomodada sobre a cama, vinhos devidamente arrumados principalmente o de 90 pesos que viajou em meus braços como uma criança de colo durante a travessia da cordilheira, agora era hora de um super banho. Banheiro grande, água morna e 1 hora de sabonete, xampu, tudo o que tinha direito inclusive abusar do tempo, coisas que os cartazes na parede pediam que não acontecesse. Meu pequeno sabonete já estava terminando e eu precisaria comprar mais. Abrindo um parênteses sobre esse sabonete, algumas táticas de viagem que tentei aplicar nessa não estavam dando certo em sua totalidade, uma delas era a meu kit de higiene pessoal altamente compacto. Tudo o que eu precisava para a viagem procurei reduzir ao máximo: escova de dentes pequena, sabonete de motel (2 unidades), shampu 2 em 1, também de motel, uma escova de cabelo daquelas que literalmente cabiam na palma da mão e um frasco de perfume de amostra grátis. Todo o kit estava atendendo aos requisitos de compatibilidade e usabilidade, exceto o mau dimensionamento da quantidade de sabonetes e o fato de ter ignorado um alicate de unha. Iniciar a viagem com as unhas devidamente cortadas, em meus planos, daria para viajar durante 16 dias e não me incomodar com elas, porém as mesmas já estavam medianamente grandes e a pele das pontas dos dedos grossa e incomodava muito, talvez o clima tenha contribuído para tal, mas aquilo me incomodava. Os sabonetes estavam no fim e pelo visto seria necessário comprar um novo. Dados estes serviriam para melhor dimensionar as próximas viagens. Após o grande banho desci para dar uma volta. Já era meio de tarde e não tinha muito que ver. Peguei um mapa que na verdade era uma fotocópia de um original no balcão do hostel e sai rua acima. A máquina necessitava urgente ser carregada mas a entrada da tomada do Chile é diferente da Argentina, logo teria que comprar um novo adaptador pois o de Buenos Aires agora não me servia de nada. Já havia marcado de encontrar com algumas pessoas de encontrar previamente durante minha estadia em Santiago e isso minimizava a sensação da dificuldade que teria em construir um novo ciclo de amizades. Uma delas era a Hilda, grande amiga minha de Natal que estava em Santiago a trabalho naquela semana. Outra era a Elaine que eu havia conhecido no Orkut na época das pesquisas da viagem e que estaria em Santiago na exata semana em que eu, vinda da Nova Zelândia e na seqüência iria para fortaleza, sua terra Natal. Por último o Cristian, o chileno de Buenos Aires, que disse a poucos dias do meu retorno que estaria em sua cidade no período em que eu estava por lá, e que poderíamos prolongar as farras da capital portenha em terras chilenas. Sai para usar uma lan house e fazer alguns contatos e encontrei a Elaine na internet, me dizendo que tinha chegado no hostel no horário marcado, mas que eu não estava lá. Pedi para ela voltar e, após alguns e-mails, voltei e me encontrei com ela. Aproveitamos a luz do sol, apesar de ser aproximadamente 18:00, fizemos um city tour relâmpago ainda perdido pela nova cidade, perdemos um certo tempo caminhando em direção oposta até acertar onde ficava a Plaza de las Armas. Na área central de Santiago ficavam a grande maioria das atrações urbanas da cidade. Museus, praças, área de convício social, enfim, uma boa caminhada já traduzia para os olhos e demais sentidos dos turistas toda a realidade social, cultural e profissional da cidade, bem como a dinâmica destes. Uma dezena de monumentos de importância histórica para a cidade de Santiago ficavam nessas redondezas, inclusive a sede do governo chileno, o Palácio de la Moneda que tem esse nome porque já foi a casa da moeda chilena mas agora é a sede do governo Chileno. Muitos militares nas ruas refletiam a recente ditadura chilena, que terminara em 1990 após 17 anos sobre a mão de ferro de Pinochet. Logo na seqüencia estava a Plaza de Las Armas, local de descarregamento de frutas e enforcamento de criminosos no passado, hoje abrigava diversas manifestações culturais, pintores, artistas de rua e simpáticos velhinhos jogando xadrez em uma espécie de associação onde qualquer um poderia disputar uma partida a um custo que não me recordo no momento. Uma apresentação de luta oriental, grupo musical indígena eram algumas das manifestações do cotidiano Santiaguense. O entorno da praça abrigava diversos prédios importantes da cidade, como a prefeitura, a catedral metropolitana, correio central e museu histórico nacional. A mais interessante, e porque não perigosa, característica das ruas nessas redondezas é a falta de meio fio, fazendo com que passagem de pedestres e calçadas fiquem no mesmo plano, fazendo com que desorientados corram o risco de serem atropelados. Entramos em uma igreja mais afastada e tiramos algumas fotos. Seguimos na esperança de conhecer o mercado municipal de Santiago, muito citado nas minhas pesquisas, mas que infelizmente já estava fechado porém comemos um tradicional empanada, típico pastel chileno cujo recheio era bem mais generoso do que o famoso pastel de vento brasileiro. Haviam de vários sabores, queijo, carne, frango e até mesmo marisco. A venda onde comemos a empanada lembrava em muito das bodegas do Recife, vendia todo tipo de gêneros alimentícios, bebidas e comidas de botequins. O dono, bem como os freqüentadores, muito simpáticos e curiosos sobre nossas origens brasileiras, logo nos orientavam sobre assaltos e demais cuidados em terras chilenas. Fomos mais atrás do mercado e vimos algo que parecia ser uma estação de trem abandonada e, ao longe, o Morro Santa Lucia. Seguimos de volta ao Hostel por outra rua e paramos em um supermercado para comprar coisas. Um novo sabonete era fundamental para corrigir meu mau dimensionamento dos sabonetinhos trazidos do Brasil. Garrafão de água para me sustentar nos próximos 5 dias, macarrão... algumas coisas básicas e a Elaine comprou coisas que também lhe interessavam. Como o Che lagarto ficava no caminho do Hostel da Elaine, nos despedimos na porta deste e combinamos o roteiro do dia seguinte, bem como dois demais dias. Cheguei ao hostel, cansado e pronto para cair na cama. Havia um atendente no hostel chamado Luah que era brasileiro e DJ, super gente fina e de boa conversa, fiquei trocando uma idéia com ele e mais duas pessoas antes de me deitar, uma delas uma argentina cujo nome não lembro mas que estava na cidade para ir a um casamento da família, cujos pais iriam chegar no dia seguinte e estava na capital chilena por antecipação para aproveitar mais. Cansado, fui a cama, era o melhor a se fazer.
O dia em que um pen drive quase acaba com o Rafting
Esse era o dia de mais um grande objetivo da viagem ser comprido. Havia reservado um passeio para fazer rafting no pé da cordilheira e acordei ancioso naquela manhã. Tomei café e aproveitei o tempo para acessar a internet e enviar algumas fotos. Guardei as garrafas de vinho e arrumei a mochila no armário de forma bem cuidadosa, afinal de contas minha curta jornada em Mendoza estava chegando ao fim, aquele seria o último dia em terras Argentinas e na manhã seguinte estaria seguindo viagem para o Chile. Minha condução chegou, da mesma forma com o motorista e um guia, porém o espírito era outro. O motorista de intitulava “El pirata” pois andava com um lenço na cabeça, e o guia era bem descontraído. O grupo não era composto de jovens em sua maioria. Abaixo dos 30 anos apenas tinha eu e dois garotos de aspecto europeu. Todos os outros eram argentinos, mas a idade não era determinante no entusiasmo. Os portenhos compostos por 2 casais eram animados e de espírito jovem. Ao grupo também existia uma americana, de aspecto latino, que durante todo o percurso até o posto de esportes radicais estava lendo um livro de Jorge Amado, em inglês, cujo título não me recordo (creio ser capitães de areia). Durante a viagem uma lembrança péssima: eu havia esquecido o pen drive com o primeiro lote de fotos da viagem descarregada da maquina no computador – E se alguém levar o pen drive eu perderia todas as minhas primeiras fotos – Pensei desesperado. Nossa, como aquilo havia morgado de forma parcial minha ida aos Andes. Pensei o dia todo sobre aquilo mas procurei me tranqüilizar pois nada poderia ser feito até eu voltar e constatar o sumiço ou sua presença. Essa era uma das táticas que eu havia adotado para poder tirar fotos e mais fotos, além de fazer vídeos da viagem. Se por ventura perdesse a maquina, ou deletasse sem querer as fotos dela, teria o primeiro lote a salvo, porém esse primeiro lote agora estava em perigo pois o gerente de risco que mora na minha cabeça não havia mensurado esse risco. Ao longo do caminho, muitas risadas e entrosamento entre os portenhos e os guias, coisa que acabara de excluir parcialmente os demais, claro que de forma não intencional. O brasileiro em questão, os galegos de aspecto europeu e a americana com cara de latina ficavam apenas observando as conversas sem entender a fundo e rindo de forma simpatica e sociabilista. Por algum motivo eu não conseguia me expressar em espanhol, não sei se o sotaque me fazia entender menos ou algum outro fator, e o que havia sido motivo de maior abordagem social em Buenos Aires acabou se tornando motivo de exclusão em Mendoza. Porém voltei as origens dos primeiros dias da viagem fui me esforçando com a linguagem universal da mímica, tentando me fazer entender.
Chegando na estação ao pé da cordilheira dos andes, o guia havia me dito que o passeio que eu desejava não haviam mais interessados, apenas eu. Havia optado por um rafting mais longo, de 3 horas de duração o qual um dus criterios que o guia se utilizava para me fazer desistir dessa aventura solitaria era de que exigir muito esforço físico, coisa que minha modéstia ignorava. Porém pelo mesmo preço eu poderia fazer o passeio mais curso, de 1 hora com os demais da turma, e um treeking pela montanha. Apos alguns portunhois e mímicas topei a empreitada, afinal de contas flexibilidade faz parte de um roteiro de viagem. O local era bem agradável e parecia ter saído de algum filme de aventura. O frio era forte na área e fazia algo em torno de 12 graus, sem falar que as águas do rio Mendoza, caudalosas e fruto do degelo das montanhas, estavam a 8 graus. O estúpido aqui foi de bermuda e botas e tremia até o tutano do osso. Aguardamos os preparativos, comi um sanduíche e desisti dos esforços de entender o que tanto os portenhos conversavam. Fui dar uma volta e tirar umas fotos, com a cabeça ainda no pen drive rezando para o santo protedor dos usuários de informática descuidados que protegesse meu pequeno datatraveler de pessoas inescrupulosas que talvez não soubessem o valor sentimental daquele pequeno item. Todos prontos, devidamente vestidos com as roupas especiais, hora de ir para o ponto de saída. Fomos além do acampamento, creio que uns 8 Km acima, um grupo de motoqueiros estilo americano passa por nós, além das montan has e do rio Mendoza para complementar a paisagem. Paramos em um ponto e avistamos ao longe 3 mamíferos da mesma família dos lhamas, mas me asseguraram que não eram lhamas apesar da forte semelhança. Recebemos as instruções e nos dividimos em dois botes. - Listos?? Adelante ?? Esse era o comando básico. Seguíamos remando forte para desviar das correntezas, depois parávamos e nos saudávamos com os remos. Uma pequena disputa era criada com o outro bote, para ver quem chegava primeiro, sem falar em que cada ultrapassagem era regada com água gelada do rio Mendoza nos oponentes. A paisagem era deslumbrante, A adrenalina alta o frio intenso, tanto que tive que trocar o remo de cabo de alumínio por um emborrachado, pois meus dedos estavam cadavericamente roxos. O medo de cair dentro do rio também era uma constante, apesar das instruções de segurança dadas, as águas ferozes do rio davam a entender que qualquer instrução de segurança seguida à risca seria inútil. No melhor do rafting o pior aconteceu: Com tanto esforço para as remadas senti um estralo intenso na coluna e uma dor na base dela, fruto da patologia que vinha se arrastando desde o último dia de Buenos Aires. Sentei no fundo do bote e sinalizei que estava com dor. Sensação duplamente horrível, a dor era grande e estava a perder meu rafting que por tanto tempo havia planejado. Esse sentimento de perda iminente e arrependimento posterior profundo me deram forças para ignorar as reclamações constantes do meu organismo e seguir. Sentei novamente na borda do bote e remei bastante, menosprezando as pontadas na coluna. Sempre em frente, ou “adelante”, remamos forte a favor da correnteza, desviando de pedras, redemoinhos e mesmo do outro bote. Por um momento o companheiro de bote logo a minha frente, em um momento muito voraz do rio, caiu nas águas geladas e um desespero instantâneo tomou conta de todos, principalmente dele. Logo apenas sentamos preocupados e buscamos refletir as normas de segurança para resgatá-lo, ele também teve essa consciência abrindo os braços e procurando boiar enquanto remávamos em sua direção – Não olhe para a luz – Gritava o instrutor, fazendo todos rirem e absorver um pouco de tranqüilidade dentro da situação. Resgatamo-lo e comemoramos muito, com o tradicional cumprimento com os remos para o alto. Chegamos exaustos de volta ao posto, felizes e animados, conversando muito sobre os eventos. Sentamos no bar da base para conversar um pouco, trocar de roupa e sair para o trekking. Boa parte da turma, exclusivamente os portenhos, participou da caminhada. Seguimos após alguns instantes a caminhada morro acima, por dentro de um duto de água e depois por entre vales e leitos de riacho seco, a coluna estava dura de tanta dor que ainda me acometia. Subimos um morro onde do alto se avistava a vastidão da cordilheira, o rio Mendoza, os trilhos do trem, a base de esportes radicais e a estrada que cruzava a cordilheira. O Pirata, sempre animado, falava coisas divertidas, por muitas horas não interpretáveis por mim, mas todos riam muito. No alto do morro uma conversa descontraída, sobre o que não sei, mas me esforçava para entender. Todos tomando mate, inclusive eu experimentei um pouco, me pareceu agradável mas estranho para um primeiro gole. Era uma coisa que se via com freqüência entre os portenhos e mesmo os mendocinos, todos adoravam mate, sempre levavam um pote com a erva, outro com açúcar e uma garrafa termina, que muito se vendia nas ruas de Buenos Aires e que em Recife só havia visto em lojas japonesas a preços triplamente maiores.
A lógica do mate era simples: em terras frias, a bebida quente ajudava a regular a temperatura do corpo, além do gosto agradável para o paladar dos sul-americanos de terras frias. Existe o nosso Chimarrão, do sul do Brasil, que se não for a mesma bebida com um nome diferenciado, é um irmão americano de grande proximidade. Voltando para a base, o grupo conversava bastante até o momento do retorno. A relação entre a minha pessoa e os portenhos era estranha, pois senti que eles gostavam da minha presença, que parecia gostar das mesmas coisas que eles, mas que por divergências lingüísticas estava com dificuldade de se comunicar, por outro lado também tive a impressão que a queda do companheiro do bote ter sido ocasionada por mim, por uma remada mau sucedida, e que alguns olhares que interpretei como sendo de reprovação me foram direcionados mas no geral gostei da alegria daquele grupo. Eram casais de idade média de 40 anos, mas com espírito jovem, que gostavam de viajar com suas esposas e maridos para fazer atividades diferenciadas da rotina de suas vidas as margens do rio da prata. Todos devidamente alojados na van, regresso para o hostel. Ainda a coluna doía e a preocupação com o pen drive também. Os casais estavam marcando de fazer um luau na base à noite, comprariam cervejas e combinaram com o Pirata para ir. Não me manifestei. Aqueles dias em Mendoza estavam sendo muito metódicos e estava com medo de perder o horário da viagem para o Chile no dia seguinte. Creio ter perdido uma boa festa, uma boa oportunidade de ter mais contato com aquele pessoal. Mas infelizmente nunca saberei. Chegando no Hostel, hora de arrumar as malas. Algumas roupas que não secaram foram ensacadas para não molhar as demais e o banho que ainda não tomara iria esperar para o Chile. Haviam algumas pessoas no hostel e sentei com elas para conversar, ainda não tivera contato com elas e pelo visto eram exatamente como eu imaginada: peregrinos que apenas estavam de passagem e não curtia atividades capitalistas como sair para bares e boates. A Mariana e o German desceram e ofereci um dos vinhos para eles como forma de despedida. Tomamos eu e a Mariana, o German nos acompanhou na conversa. Foi meio triste, mas o vinho afogava as mágoas. Me despedi dos amigos Neuquenses e já mentalizando futuras viagem ao sul da argentina no futuro para rever os colegas. A Mariana era dançarina e tinha se interessado pelo Forró, que eu falara e mostrei em alguns vídeos do youtube. E o pen drive??? Ahhh, ele estava lá no computador quando tinha chegado do Rafting. Felicidade plena e agora teria que dormir para chegar cedo a estação de ônibus e ir para mais uma cidade, ou melhor, para um novo pais: o Chile.
Acordei meio quebrado, ainda com a dor nas costas da caminhada do último dia em Buenos Aires, estava preocupado com a hora do tour dos vinhos que havia separado para aquele dia. Tomei café e aguardei a van vir me buscar. Eu já havia tido os primeiros contatos com vinhos durante a minha viagem. Em alguma das conversas de fim de tarde no Pub do Che Lagarto, perguntei sobre vinhos a algumas pessoas e fiz algumas anotações, além de ter tomado algumas garrafas com Marcela e Carla, mas aquele dia seria inteiramente para me aprofundar sobre essa bebida que impulsionava o turismo da região e agradava os paladares de pessoas ao redor do mundo. Essa importância ficou mais latente na festa do dia anterior, a celebração maior cuja cidade havia parado para apreciar. E não é que na televisão, em um programa tipo "Ana Maria Braga" de Mendoza, estava lá a nova Rainha dando entrevista e tomando café da manhã? Chegando a condução a van tinha seu motorista, claro, e uma guia e o veículo já tinha alguns turistas que iriam participar do passeio, além de mais alguns outros que iríamos buscar em outros hotéis e pousadas. No caminho para nosso destino inicial, a guia explicava sobre o vinhos, os tipos, quantas vinícolas existiam em Mendoza (quase 900). Nossa primeira parada foi em uma vinícola de produção familiar. Fomos recebidos com uma senhora de sorriso largo e muito simpática, esposa do proprietário, que nos mostrou todo o processo de produção de seus vinhos, desde a colheita nos vinhais até o engarrafamento. Interessante processo, cuidadoso e curioso. Fomos ao subsolo onde ficavam os barris de carvalho onde alguns dos melhores vinhos produzidos ali ficavam apurando seu sabor durante um ano. Na seqüência tivemos uma aula de degustação, provamos alguns vinhos da vinícola e aprendemos a avaliar suas características de cor, odor e sabor. Ao final tínhamos um tempo para comprar algumas garrafas de vinhos na lojinha da vinícola. Estava com um pouco de receio em gastar tanto dinheiro mas não me contive e comprei algumas garrafas de vinho e uma do melhor vinho de lá, cuja entrega seria feita no próprio hostel. Dando continuidade ao passeio fomos a uma vinícola cuja produção era mais industrializada. Conhecemos o processo do começo ao fim na mesma filosofia do anterior, apenas sendo o processo mais mecanizado. Explicações por vezes repetidas mas também com novos conteúdos que iam agregando mais eno-conhecimento. Novamente tivemos uma aula de degustação e nova parada para comprar vinhos na lojinha. A essa altura do campeonato eu já estava com diversas garrafas prontas para degustá-las ao longo da viagem e ao regressar para casa, presenteando assim meus pais que eram enófilos e iriam adorar vinhos de tamanha qualidade. Regressei mais cedo do que imaginava e aproveitei para dar uma caminhada na cidade. Exacerbações patrióticas a parte, todo brasileiro gosta de levar no peito a bandeira ou o mapa do Brasil na camisa, alguns mais exagerados gostam de carregar bandeiras enormes como se estivessem nas olimpíadas de fato representando seu país. Sem beirar o exagero, eu havia comprado uma camisa, ainda no Brasil, que tinha não só o mapa do meu país, mas também um “X” sobre a o Recife, de forma tal que eu poderia mostrar onde eu morava as pessoas que fizessem cara de desdém quando eu falasse o nome da minha cidade natal. O que parecia ser uma forma não exagerada de levar meu país no peito se mostrou uma idéia um pouco perigosa em duas situações. Em uma delas, neste mesmo dia, eu estava caminhando pela rua quando um cara de aspecto estranho se dirigia para mim perguntando onde era a praça da independência. Quando eu disse que ela ficava atrás dele, ele continuava perguntando e vindo na minha direção. Aquela situação estranha me fez falar em tom mais forte: “detras de usted, bien?! E o camarada meio desconcertado deu meia volta e seguiu. Bom, até ai talvez nenhuma relação com minha camisa, mas quando parei para comer um cachorro quente , um cigano parou do meu lado e perguntou se eu era brasileiro. Desconversei e virei o rosto. Esse mesmo cigano havia tentado me abordar um dia antes mas, como eu estava caminhando, dei meia volta. Coincidentemente encontrei o German e a Mariana enquanto comia e conversamos um pouco, programando algo para fazer, enquanto o cigano abordava uma pessoa que estava comendo em outra mesa. De alguma forma na qual não entendi bem, o cigano persuadiu o turista, pegou seu dinheiro e o turista saiu furioso com o mesmo. Naquele momento decidi seguir caminhando com meus amigos para o destino a qual eles iriam. Andamos cidade acima e fomos ao aquário municipal, ver peixes. A programação não só parecia bucólica demais como a maioria dos peixes eram brasileiros, os quais não me impressionavam. Na seqüência fomos a um reptiário, ver répteis. Essa parte da história também não é tão merecedora de descrição. Voltamos caminhando pela cidade e conheci melhor sua história. Mendoza ficava numa região onde os terremotos eram constantes e muitas de suas construções histórias haviam sido demolidas por esse fenômeno da natureza. Demos uma passada na rodoviária para que meus amigos comprassem antecipadamente suas passagens de volta pra casa, e voltamos para o hostel. As pessoas do hostel, em sua maioria eram peregrinos, pessoas de passagem que viviam pelo mundo mais pelo prazer da viagem do que de curtir o lugar. Não havia pessoas como o Cristian que gostavam de uma balada, e pelo visto meus dias em Mendoza não seriam agitados. Sai a noite com o German e a Mariana para jantar em um restaurante mexicano, conversamos um pouco e bebemos. A certa altura da noite, eu e a mariana, os únicos que bebiam do trio, estávamos perguntando como se falavam algumas palavras de baixo calão na língua do outro. Muitos risos e descontração, o German participava da conversa de forma mais contida. Voltamos para o Hostel e fui direto para a cama. Vale salientar que eu estava para alcançar mais um índice olímpico: o de mais dias sem tomar banho.
Bodega e Viñedos Cavas de Don Arturo (não possui website) Franklin Villanueva, 2233 - Lunlunta - Maipú Mendoza - Argentina Tel: 0261-4963858 154538854 - 154540843 e-mail:cavasdonarturo@yahoo.com.ar
Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser; que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos e simplesmente ir ver
Relato cronológico da viagem feita entre 01/03 à 16/03 de 2008 entre a Argentina e o Chile, começando por Buenos Aires (07 dias), depois Mendoza (03 dias) e Santiago (5 dias) - sendo um dia para Viña del Mar e Valparaiso -, com o objetivo de conhecer a gastronomia, lugares turísticos, históricos, culturais, costumes, esportes de aventura e aprender espanhol.